O Brasil desperta para algo melhor (adorei esta reportagem...)
(http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/06/manifestacoes-pelo-brasil-um-jogo-de-ligar-pontos.html).
Confesso que, logo no início, achei que as manifestações fossem um
movimento sem consistência e não fossem dar em nada. Mas os dias (ou
horas?) passaram e comecei a perceber que estava acontecendo algo como
“um jogo de ligar pontos”: muitos milhares de pessoas insatisfeitas com
tantas coisas no país, mas que reclamavam isoladamente e sem resultado,
descobriram a própria voz.
De repente, os "20 centavos" da passagem foram a gota d’água. As redes
sociais, o veículo que permitiu que cada cidadão insatisfeito percebesse
que não estava sozinho. E assistimos a algo que há tanto tempo não se
via – o povo nas ruas dizendo o que pensa e sente.
O movimento é pacífico, apesar de alguns grupos agirem de forma
totalmente fora de contexto. É impossível saber quem está numa
manifestação com milhares de pessoas. Isso também acontece em jogos, e
não podemos dizer que a proposta da torcida é ir ao estádio para
destruir ou depredar – essa é a postura infeliz de alguns indivíduos
desequilibrados e violentos e que destoam absolutamente da proposta
coletiva.
Não sei dizer quais serão os novos passos do movimento, mas posso falar do que vejo, já, como consequências.
Toda uma geração, que tinha a alcunha de alienada, acordou, saiu dos
computadores, e foi para as ruas. Mais do que isso, passaram a se
informar sobre temas que antes não passavam pela sua área de interesse,
apesar de afetarem diretamente as suas vidas e as de suas famílias.
Os políticos e governantes foram obrigados a ouvir que os cidadãos não
suportam mais a corrupção, o descaso com o dinheiro público, as decisões
que não levam em conta as prioridades da população. Ficou mais do que
claro que as pessoas não estão tão cegas quanto o silêncio geral fazia
crer.
O fato de não haver partidos iniciando o movimento mostra que também
estão à margem das reais necessidades da população e se perderam em si
mesmos. São alvo de insatisfação e, no momento, têm sua credibilidade
como legítimos representantes questionada.
O movimento foi alavancado pelos jovens e pela modernidade da
tecnologia, mas fez os mais maduros também sacudirem a poeira do
entorpecimento em que vivemos há tantos anos. Famílias inteiras foram às
manifestações. Mães com bebês criaram eventos paralelos para também
participarem.
Ficou evidente que a nossa polícia está mal preparada e inadequada. E
isso não se restringe à ação truculenta de alguns indivíduos – o que,
nesse caso, é inadmissível, já que ingressam por meio de concurso
público e são (ou deveriam ser) treinados constantemente para o
exercício de suas atividades. A polícia deveria proteger o cidadão.
Deveria saber se organizar para agir em caso de manifestações
democráticas, sem permitir, claro, a violência. Mas agindo com precisão,
e não usando de violência contra pessoas desarmadas para evitar a
violência - contrassenso . Deveria haver bombeiros de prontidão para
socorrer pessoas que passassem mal e para apagar de imediato incêndios
que os radicais iniciassem. Existe uma cartilha editada pela Anistia
Internacional, estabelecendo padrões internacionais para o comportamento
das tropas. Apesar da tensão natural do momento, é possível – e
extremamente necessário – definir normas básicas para nortear isso.
Também ficou claro que os discursos bem arrumados de sempre não estão
mais funcionando. Dizer que revogar o aumento dos transportes obrigará à
redução de investimentos em outras áreas, como que culpando a própria
população pela queda futura da qualidade dos serviços que elas
reivindicam, gerou mais indignação. As notícias sobre os valores gastos
com estádios ainda estão quentes. Os serviços são péssimos desde sempre.
Os investimentos são feitos sabe-se lá com base em quais critérios. Sem
falar nos desvios de verbas e superfaturamentos.
Mas é preciso equilíbrio. De todos. De cada um. Radicalismos são a
contramão do que se busca. Não há qualquer dúvida de que a democracia é o
caminho. Graças a isso as pessoas estão podendo se manifestar. Graças a
isso um país inteiro está desperto e debatendo a situação. Mas não há
soluções milagrosas. Temos um trabalho pela frente, de mudança de
postura. Cabe lembrar que isso também pressupõe uma mudança individual
de postura. Acabar com o "jeitinho brasileiro" na vida privada também.
Se queremos mudar o Brasil, precisamos também estar dispostos a ser
éticos nos pequenos atos do nosso dia a dia.
Não sei o que será amanhã, mas algo já aconteceu. Vejo um movimento
político, sim, mas apartidário. Não vejo uma revolução, mas um
despertar. As pessoas desejam que as coisas funcionem. Basta dar uma
olhada nas postagens das redes sociais e nos cartazes vistos nas
manifestações para entender: pedem seriedade, respeito e decisões
honestas. O que aconteceu nessas semanas nunca mais será esquecido.
Tomara que seja realmente compreendido e faça com que as pessoas que
ocupam posições de poder não gastem seu tempo pensando em como tirar
proveito disso, mantendo a lógica de sempre. Que possam fazer reflexões
sérias e que transformem suas atitudes. Ou terão perdido o bonde da
história.